segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Diálogos




Nada é melhor do que o momento do xaveco. Dizem alguns que o trabalho da conquista é melhor até que o prêmio conquistado em si.

Mas o que sinto, nos dias de hoje, é a dificuldade de se travar uma boa disputa de conversa com o sexo oposto. Não pela homogeneização dos interesses sexuais em geral, mas pela falta de conteúdo e também pelo fato de que as partes envolvidas não seguem um script. Com o segundo, o aproach ficaria muito mais legal.

...

- Será que eu posso...

- Será que vale a pena? – Respondeu de bate pronto, com um sorriso desafiador e provocante.

- “Tudo pode valer a pena, se a dose não for pequena”. Dois duplos, por favor – pediu ao garçom enquanto se acomodava ao balcão.

- Parafraseando frases de efeito. Isso pode ser um defeito.

- Touchè.

O garçom entrega os duplos. Ele, cordialmente, faz a justa distribuição dos copos e sugere o brinde.

- Aos acontecimentos inesperados.

- Algo inesperado aconteceu?

- Eu espero que aconteça...

- Que bom que já está sentado.

- Pra levantar é um passo. Ou mais. – Gira o corpo de frente ao dela e devolve, em doce vingança, o sorriso desafiador e provocante.

- Menos, bem menos...

Ela volta os olhos ao copo de Jack Daniels. Ele percebe a jogada. Não quis dizer menos. É só mais um desafio. Ela quer saber até onde ele pode ir. Em milésimos de segundos prepara o rumo da investida. Qualquer tempo perdido pode ser fatal.

- Sabe, sem querer parecer clichê...

- Isso de não parecer clichê é tão clichê.

- Mas não é o que parece.

- O que parece?

- Você.

- Eu sou clichê?

- Não. Mas me parece familiar. Acho que já lhe vi antes.

- Sim. Há poucos minutos e muitas palavras atrás.

- Inflexível!

- Isso, com certeza, você ainda não pode dizer.

- Me desdobraria para poder. – Dobrou a língua, assoviou para o garçom e pediu mais dois duplos. Agora, era só uma questão de tempo. Administração pura e os resultados almejados seriam obtidos. Ela passou a mão nos cabelos e sorriu. Achou que realmente poderia valer a pena...

...

Infelizmente, isso vive em âmbito teórico, que se faz utópico nas vias práticas, praticamente inviáveis ao processo de aproximação.

...

- Será que eu posso...

- Não. Não pode. – Se levantou e saiu. Sem script e sem dar a menor chance à boa conversa.


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