quarta-feira, 18 de abril de 2012

Golpe de vista


O clube sempre foi um lugar honesto para investidas. As meninas, de biquíni, não dão falsas expectativas criadas pelas roupas justas e coladas que levantam e enrijecem partes do corpo já afetadas pela gravidade e outras leis. O jogo é limpo.

Nessa crença, fiz minha bem-sucedida abordagem no lugar em questão e logrei êxito ao marcar de sair à noite com a gata da beira da piscina que exibia uma tatuagem tribal que ia do meio da cintura até metade da coxa direita, cortada apenas por um minúsculo fio de biquíni.

...

Então eis que eu estava animado. Não teria surpresas. Já havia feito a análise. Ela era do tipo atleta. Sarada, bronzeada, tatuada, óculos escuros esportivo, cabelo liso e preto preso com rabo de cavalo e ainda tinha um bom papo. Sucesso total. Parado na porta da casa dela, mandei o Halls de melancia pra dentro da boca e passei o torpedo. “Na porta.” – Sou direto e objetivo, assim como o ataque do São Paulo.

Ela não respondeu. Pouco tempo depois saiu de casa e veio caminhando rumo ao carro. Vestido decotado, daqueles de pano molinho que eu não sei o nome, mas que ficam esvoaçantes e marcam a calcinha, seja ela do tamanho que for. Em tempo, ela não estava marcando nada. Oh, glória.

Abriu a porta do carro, foi entrando e cumprimentando com um oi enquanto aproximava o rosto do meu para os tradicionais beijinhos e UAAAAAAAAAAU!!! Mákiporréssa?

Que que é isso, mano! Não dava pra acreditar. Era tenso. Muito tenso. Malditos óculos escuros!

A mina (nesse momento ela migrou de gata para mina) era vesga. Vesga não, vesgaça! O Luan Santana recolhia sua insignificância estrábica perto dela. Era mais vesga que o gambá que bombou na internet ano passado.

E o pior. Era vesga pra fora. Era mais fácil ela conseguir juntar os olhos nas orelhas do que no nariz. Por que assim, a vesga pra dentro, não é legal, mas não é a pior coisa que tem. Veja o eterno exemplo da Cristiana Oliveira, que ficou famosa por sua leve empenada no olhar. De certa forma, pode ser até meio “cuti”.

Mas pra fora? Pra fora é foda, amigo. Se o sujeito não tiver queixo e for dentuço, fica parecendo o Cid, a preguiça da Era do Gelo. Pra fora rola aflição. Um olho no gato, outro no peixe. A gente nunca sabe pra que olho olhar, qual dos dois estão mirando o que se quer ver.

Mas ok. Continuando.

Numa atuação digna de Oscar, fingi total indiferença praquilo, camuflei o arrependimento e fortaleci o “então, pra onde vamos?”. Torci pra que ela respondesse algo como um cinema 3D e assim tratava de botar novamente uns óculos naquela cara, mas ela sugeriu comermos alguma coisa, algum barzinho.

Pensei: ficar sentado de frente olhando pra esses olhos de lado? Danosse! Eu ia ter que sentar ao lado dela, assim, olhava só pra um olho e tentava abstrair pra onde o outro estaria olhando. Que situação!

Durante a conversa no bar, mais momentos constrangedores. Nas vezes que eu fazia algum comentário mais picante, ela abaixava a cabeça, envergonhada, mas os olhos miravam no alto e à direita, típico de olhar de dúvida. Ela ia dar uma garfada na comida, mas parecia que estava secando a minha. E toda hora que ela me olhava – ou tentava olhar– nos olhos eu olhava pra trás procurando o que ou quem ela supostamente tinha visto passar.

A maré não estava pra peixe. Não deu liga. A banda não tocou. Então, barriga cheia, simulei o bom e velho “sono bateu” e sugeri que fôssemos embora. Ela me olhou torto, mas aceitou. Na volta, mais silêncio que conversa. Liguei o som - Tocou Chico. “Olhos nos olhos, quero ver o que você faz”. Brincadeira gente. - Tocou uma música pop qualquer. Estava na rádio Interativa.

Paramos na porta da casa dela. Despedimo-nos, dois beijinhos, ela desceu e caminhou rumo à porta. Eu segui. Fui embora sem olhar pra trás. Um olho pra frente. O outro também.


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