terça-feira, 8 de maio de 2012

Excedências



Amigo é amigo e filho da puta é filho da puta. E em uma noite, numa balada, Eu fui amigo para um filho da puta. Explico.
Estávamos eu e um amigo em uma viagem a negócios por uma dessas cidades desse Brasil de rios e Cachoeira. Como de praxe, toda viagem a trabalho pede, por obrigação, uma balada. Pode ser numa segunda-feira. Se sair da sua cidade a trabalho, você vai pra balada local. Mesmo que ela seja uma festa de som automotivo dentro da boate em frente à praça principal – Um caso que posso contar em breve.
O fato é que então fomos os dois a procura do que fazer. Primeiro um barzinho pra dar aquela animada e logo depois resolvemos encarar uma festa estranha com gente esquisita. Mais esquisitos do que gente. Talvez por isso emplacamos uma garrafa de vodka. Começamos a enxergar cada vez mais gente e menos esquisitos.
Ao final da noite meu amigo já estava lá se atracando com uma menina que não tenho a menor ideia de quem é, era ou será. Já eu, tinha como companhia somente o sofá preto, tosco e fedendo a fumaça e álcool que eles chamaram de camarote. Se ao menos já fosse era dos smartsphones, poderia ter ficado lamentando a vida no Facebook.
Quando eu já estava quase babando no sofá ele chamou pra irmos pro hotel. Ia levar a mulher pro abate. Falei que não tinha problemas, eu ia chegar e capotar de qualquer jeito. Não ia ouvir nada. Entrei dentro do carro e quando ia fechar a porta, a coisa aconteceu.
(Percebam que sempre existe um ponto de virada de qualquer coisa da minha vida que faz com que tudo o que poderia ser absolutamente normal se torne uma história esdrúxula e inexplicável.)
Eis que ela chegar ofegante e toda serelepe gritando pelo nome da amiga – a que estava com meu amigo – e já entra dentro do carro também.
Gorda. 
Muito gorda. Tão gorda que só de digitar o nome dela no Word ele já vai automaticamente em negrito. Era mais fácil de pular que rodear, a criatura. Veio entrando no carro toda borrachona, tipo aqueles gatos gordos que passam entre as grades e vão arrastando o corpo pra poder passar.
- Ai, amiga, onde vocês vão? Iam me deixar aqui? Não acredito. Olha, que loucura de festa viu? Ai nem conheço vocês, tudo bom? Meu Deus que suadeira!
Gordo sempre sua. Gordo sua até na piscina.
-Estamos indo pro hotel deles, tomar uma saideira, vamos?
-Ai, vamos demais. Nossa, vocês não são daqui? Vocês são de onde?
-Goiânia - respondi. – Como ela arruma tempo pra comer tanto se não cala a boca? – pensei.
Nessa hora já me veio o pavor. Em milissegundos formulei dezenas de possibilidades pra eu não ter que ficar de papo com essa gorda enquanto meu amigo faturava a coisinha que ele pegou. Nem era tão coisinha assim, mas devidos os parâmetros de comparação recém instaurados ela se tornou Miss Venezuela.
- Ai, prazer. Isabela. Pode me chamar de Bela. (POR QUÊ NÃO PARA COM ESSE “AI”?)
- Danilo. Vou chamar de Isa pra ficar menos hipócrita. – Sorri com ar de vilão. Ela não se abateu. Acho que nem entendeu, já foi logo cutucando a amiga pra falar qualquer outra besteira que começasse com “ai”. E eu, maquinando formas de me livrar de tudo aquilo.
Chegamos ao Hotel. Tivemos que entrar escondido, pois senão seria cobrado adicional de pessoas no quarto. Se cobrassem por espaço, a moça ia ser mais cara que a suíte presidencial do Copacabana Palace.
Entramos os quatro no quarto e o casal vinte já foi se jogando na cama pra dar uns amassassos e ficar naquele climinha chato de “pega ela também, vai!”. 
De cara já me joguei na cadeira, fiquei de frente o computador, abri uma cerveja e o Orkut. Era Orkut na época. A gorda deitou na minha cama. As beiradas dela começaram a escorrer pela borda do colchão. O vestido branco não segurou os peitos e eles também escorreram pelo lado. Cena tensa.
Passa um tempo, aquele conversê sem razão, eu desviando de todas as investidas da loira – Falei que era loira? Só a gordura que é referência, normalmente – e o álcool foi subindo. Mais uma vez. Já pulou da ressaca pra liga.
Estava cansado, bêbado e o casal estava lá do nosso lado fazendo o serviço. A gorda me chama pra cama dando três tapinhas no colchão.
- Vem pra cá, vem.
Fui.
Não me julguem. Queria dormir, mas o álcool desperta uma libido aqui e outra ali... sabem como é.
Não consegui entrar na cama. Não cabia. Deitei por cima dela. Era gorda, mas era confortável. Logo em seguida ela começa a me bolinar. Mão aqui, língua acolá e eis que a resposta instintiva da testosterona se fez presente. Tirei minha calça e depois a calcinha dela. Ambos tinham o mesmo tamanho. Tentamos o ato. Digo tentamos porque creio que nem mesmo Kid Bengala chegaria lá. A distância da barriga pro local de destino era tão grande que tinha placa de sinalização e um posto Ipiranga no caminho.
Tentamos vias superiores de entretenimento. CARA! Eu poderia fazer uma espanhola usando minha perna e ainda assim ela ficaria perdida no meio daqueles peitos. Que isso! Tá danado. Subiu pra boca. Aí a coisa simulou algum sucesso, mas não passou disso. Fomos rendidos por limitações físicas – se ela fosse menor ou eu beeeeeeem maior, talvez desse certo.
-Ae, tive uma ideia – Falei
- O quê? – Ela perguntou
- Vamos fazer uma troca de casal e tal. Sabe, dar uma animada nisso aqui. Alguns joguinhos.
-Ai, eu não quero não. – ela falou.
- É, ta de boa assim - meu amigo falou. A mulher dele apenas sinalizou que não com a mão. A boca estava ocupada embaixo do lençol.
Mas que maldição, pensei. Ocupei novamente a boca de moçoila. Meu amigo riu. Fez aquela cara de “Tá doido que eu vou pegar isso aí, mano? Pirou?”
Apaguei.
Acordei no outro dia em cima da Isa, fiquei de cócoras sobre a sua barriga e a acordei. Sim, eu cabia inteiro de cócoras sobre a barriga da dita cuja.
-Acorda, Isa. Hey vocês dois, acordem aí também!
Estávamos atrasados e tínhamos que ir pra outra cidade. Acelerei todos. Queria me livrar logo da Rainha Momo. Dormir com mulher bonita e acordar com feia é normal pra quem bebe. Mas quando vai dormir já é feia, imagina pela manhã.
Mandamos as meninas irem sozinhas na frente porque o recepcionista do hotel não poderia nos ver juntos. Ela foram embora. Ufa.
- Filho da puta você, sabia?
- Que isso? Pelo menos ela é legal. – E ele riu. Viado.
- Ahan. Me deve uma. Me deve muitas!!!
Fomos fechar a conta do hotel e foi cobrado excedente. O funcionário do turno da noite nos viu pela câmera do elevador. Tivemos que pagar pelas moças. Fiz meu amigo pagar. Pelo menos não foi cobrado por espaço.


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