sexta-feira, 27 de abril de 2012

Canto, bebo e choro.


Gostar de alguém é fácil, difícil é andar de moto sem estragar o penteado. E eu, cego que não sou, tive meu amores á primeira vista. Um deles deu o que falar na família.

Entrei no supermercado e de cara já há vi. Parada em frente à pirâmide de bolachas Mabel doando sorrisos a qualquer infeliz que demonstrasse interesse ou na bolacha ou nela. Ossos do ofício.

Impossível não se apaixonar. Covinha, corpinho na medida e dois fiapos de franjinha dos lisos cabelos castanhos claros caindo nas laterais do rosto. Meu irmão, eu tenho uma tara do caralho com esses fiapos. A mulher me derruba na hora.

Eu sempre fui mané com mulheres. O que é algo bem normal para alguém que era menor que a média, franzino, com um fundo de garrafa de 7 graus e cabelo de índio (Já tive o apelido de Uerê, o índio da novela Rei do Gado). Mas com ela eu tinha que fazer algo. Afinal, não devia ser tão esperta, se fosse teria trabalho melhor que sorrir ao lado de bolachas.

Descobri depois, que ela era vizinha da mãe da mulher do meu pai e, logo, eu era presença cativa nos almoços do domingo na casa da sogra. Até aí tudo bem.

Eis que de repente descubro que vai rolar uma excursão prum show do Bruno e Marrone na cidade de Caldas Novas e ela queria ir, mas não podia ir só.

-Eu vou também. Quero demais ver esse show.

Eu abomino sertanejo! Eu repudio Bruno e Marrone. Mas como a oportunidade é uma mulher pelada e careca com corpo cheio de óleo e trança na testa, agarrei firme sem deixar passar.

Ela sorriu e gostou de saber que ia ver seus ídolos no reduto de água quente. Sorriu pra mim. Me desmontou tal como um chute num castelo de Lego. Cogitei gostar de sertanejo...

Pensa um nervoso. Dia da excursão, saída no fim da tarde, todos ao redor do ônibus, eu suando mais que gordo comendo feijoada na Lapa e ela chega. Já começo as mirabolantes estratégias pra poder sentar ao lado dela dentro do ônibus. Não confiava no meu taco e pra ela sentar com outro cara era daqui pra ali.

Ofereci pra guardar sua mala no maleiro e isso me fez escolher onde ela ia sentar. Sentei ao seu lado logo depois de guardar a mala. Fase um, ok. Agora, era curtir uma viagenzinha tranquila, sem fazer nenhuma burrada até o show e aproveitar a vulnerabilidade melodramadrámtica sonoro-cornístico que o gênero rural desperta nas pessoas para dar o bote certeiro.

Mas, eu? Não fazer burrada? Impossível. E de cara, no primeiro assunto já mandei:

- Sabe, nem ia falar isso agora, mas você é tão linda que nem consigo esperar. Quero ficar com você. Aqui e no show.

Pra que? Como assim? Como eu posso ser, sem ajuda de ninguém, o cara que mais ferra comigo mesmo? Cara, se eu falasse isso em frente ao espelho ia levar um fora do reflexo.

- Olha, acho que a gente deve ser só amigo mesmo.

A gente nem era amigo. Ela nunca tinha falado comigo antes de subir no busão. E agora, não ia querer falar de novo quanto descesse.

Não bastasse o clima tenso que ficou a viagem toda, ao chegar, o ônibus parou e ela sumiu com a galera. Liguei o foda-se, e como bom ouvinte de sertanejo, fui curar a dor desse mal de amor no álcool. Era novo, mas já tinhas meus vícios.

Enchi a cara sei lá onde, enquanto ouvia no fundo o show da dupla do inferno.


“Te amei demais

Você nem viu

E eu chorei, chorei”


Acabou o show e eu tinha que voltar pro lugar de encontro pra voltar pra segunda sessão da minha humilhação. Mas daí, amigo, o mundo prova de que tudo que é ruim pode piorar. E comigo isso não é exceção. É regra.

Eu não tinha a menor ideia onde estava o ônibus. Mas a menor mesmo! Comecei a vagar pela cidade, perguntando pra galera da rua onde tava o ônibus do Bruno e Marrone. Chapado! Ninguém levou a sério. E eu ia desesperando. E vagando pela rua ainda cheguei, inocente, a pensar:

- Ela vai ficar puta comigo por tê-la feito esperar por mim. O que nunca seria, agora já era.

E andando e vagando aparece um ônibus que tinha acabado de sair com um cara gritando na porta:

- É ele ali ó! Ó o maluco que sumiu ali. É ele mesmo?

Parou do meu lado.

- Você que veio com a gente de Catalão?

-Foi. – Falei e entrei no ônibus.

TODOS me olhando com aquela cara. Nem a bruxinha Matilde recebeu tanto olhar discriminador. Se na época bullying fosse polêmico, eu teria dado entrevista no fantástico.

Continuei andando pelo corredor e vi que o lugar dela estava vago. Havia se sentado com um outro qualquer lá que não sei quem era. Fui na volta sentado sozinho. Se isso fosse um filme, nessa hora ia chover e trovejar. Muito.

Chegando no ponto de volta, desço do ônibus e quando estou indo embora, arrastando minha depressão, a ouço chamar por mim.

- Hey. Heim. Então. Você tem que me acompanhar até em casa. Minha mãe falou que tinha que te ver quando a gente voltasse.

- Ah, ok. Claro.

E ainda sorri.

Mas o que a gente não faz por amor?




@Danilomaranhao

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Golpe de vista


O clube sempre foi um lugar honesto para investidas. As meninas, de biquíni, não dão falsas expectativas criadas pelas roupas justas e coladas que levantam e enrijecem partes do corpo já afetadas pela gravidade e outras leis. O jogo é limpo.

Nessa crença, fiz minha bem-sucedida abordagem no lugar em questão e logrei êxito ao marcar de sair à noite com a gata da beira da piscina que exibia uma tatuagem tribal que ia do meio da cintura até metade da coxa direita, cortada apenas por um minúsculo fio de biquíni.

...

Então eis que eu estava animado. Não teria surpresas. Já havia feito a análise. Ela era do tipo atleta. Sarada, bronzeada, tatuada, óculos escuros esportivo, cabelo liso e preto preso com rabo de cavalo e ainda tinha um bom papo. Sucesso total. Parado na porta da casa dela, mandei o Halls de melancia pra dentro da boca e passei o torpedo. “Na porta.” – Sou direto e objetivo, assim como o ataque do São Paulo.

Ela não respondeu. Pouco tempo depois saiu de casa e veio caminhando rumo ao carro. Vestido decotado, daqueles de pano molinho que eu não sei o nome, mas que ficam esvoaçantes e marcam a calcinha, seja ela do tamanho que for. Em tempo, ela não estava marcando nada. Oh, glória.

Abriu a porta do carro, foi entrando e cumprimentando com um oi enquanto aproximava o rosto do meu para os tradicionais beijinhos e UAAAAAAAAAAU!!! Mákiporréssa?

Que que é isso, mano! Não dava pra acreditar. Era tenso. Muito tenso. Malditos óculos escuros!

A mina (nesse momento ela migrou de gata para mina) era vesga. Vesga não, vesgaça! O Luan Santana recolhia sua insignificância estrábica perto dela. Era mais vesga que o gambá que bombou na internet ano passado.

E o pior. Era vesga pra fora. Era mais fácil ela conseguir juntar os olhos nas orelhas do que no nariz. Por que assim, a vesga pra dentro, não é legal, mas não é a pior coisa que tem. Veja o eterno exemplo da Cristiana Oliveira, que ficou famosa por sua leve empenada no olhar. De certa forma, pode ser até meio “cuti”.

Mas pra fora? Pra fora é foda, amigo. Se o sujeito não tiver queixo e for dentuço, fica parecendo o Cid, a preguiça da Era do Gelo. Pra fora rola aflição. Um olho no gato, outro no peixe. A gente nunca sabe pra que olho olhar, qual dos dois estão mirando o que se quer ver.

Mas ok. Continuando.

Numa atuação digna de Oscar, fingi total indiferença praquilo, camuflei o arrependimento e fortaleci o “então, pra onde vamos?”. Torci pra que ela respondesse algo como um cinema 3D e assim tratava de botar novamente uns óculos naquela cara, mas ela sugeriu comermos alguma coisa, algum barzinho.

Pensei: ficar sentado de frente olhando pra esses olhos de lado? Danosse! Eu ia ter que sentar ao lado dela, assim, olhava só pra um olho e tentava abstrair pra onde o outro estaria olhando. Que situação!

Durante a conversa no bar, mais momentos constrangedores. Nas vezes que eu fazia algum comentário mais picante, ela abaixava a cabeça, envergonhada, mas os olhos miravam no alto e à direita, típico de olhar de dúvida. Ela ia dar uma garfada na comida, mas parecia que estava secando a minha. E toda hora que ela me olhava – ou tentava olhar– nos olhos eu olhava pra trás procurando o que ou quem ela supostamente tinha visto passar.

A maré não estava pra peixe. Não deu liga. A banda não tocou. Então, barriga cheia, simulei o bom e velho “sono bateu” e sugeri que fôssemos embora. Ela me olhou torto, mas aceitou. Na volta, mais silêncio que conversa. Liguei o som - Tocou Chico. “Olhos nos olhos, quero ver o que você faz”. Brincadeira gente. - Tocou uma música pop qualquer. Estava na rádio Interativa.

Paramos na porta da casa dela. Despedimo-nos, dois beijinhos, ela desceu e caminhou rumo à porta. Eu segui. Fui embora sem olhar pra trás. Um olho pra frente. O outro também.