segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Como se fosse a primeira vez



Esse ensaio se deu por simples acaso do vazio. Explico. Recebi o convite de um amigo para que escrevesse uma coluna na sua revista, o que orgulhosamente aceitei, é claro. Corrido o tempo, coisa alguma me inspirava a ponto preencher essas linhas. Eu não sabia sobre o que escrever. E não aceitaria discorrer sobre qualquer coisa. Mas eu queria que saísse algo. Queria estar na página da revista e ter uma foto no canto da página. E esse foi meu insight.

Hoje quase não se faz mais o que se quer fazer, mas sim, o que se quer parecer. Esse é o problema. Minha ânsia por ser lido condicionou-me, a princípio, escrever o que fosse, para que apenas estivesse aqui. E situações similares estão presente em todo o lugar. Nossos políticos não querem governar, mas apenas ostentar o ilibado colarinho público cheio de regalias que os alçam à sociedade. Nossos músicos não querem mais pautar laudas com epopeias memoráveis de uma luta filosófica, ou bradar protestos que afligem a oligarquia despótica do país, por medo do ostracismo.

Até mesmo na publicidade, que devoto por paixão e exerço por necessidade, isto se torna cada vez mais notório. O encanto de comunicações poéticas e lúdicas abrem espaço aos insossos petardos renhidos impostos pela soberania temida do cliente. E nosso ofício se contenta à mera vanglória derramada aos amigos em mesa de botequim e festas de premiação, que prioriza os convidados às estrelas primárias  do negócio, a propaganda.

Tudo são status e negócios. Não se faz amor em período sexista. Pois mais conta com quantos se dormiu do que o quanto se amou. E por ter em mim, quimera que resiste aos embates frívolos das realizações, sabe-se lá se este foi nosso primeiro ou último encontro. Mas, cada vez que acontecer, que a sensação seja de que foi único.



(Era pra sair na revista desse amigo. Não saiu...)

@Danilomaranhao