Álcool é como professor de matemática. Quando resolve algum
problema, logo manda outro. Nesse dia mandou um que nem aluno do ITA
resolveria.
Estava eu numa casa sertaneja de Aparecida de Goiânia – não gosto
de sertanejo mesmo, mas às vezes é a única opção para sair aqui – que não se
situa no lugar mais tranquilo da cidade. A tequila, mais barata que conheço,
estava descendo como água e de repente o uísque surgiu também.
Logo já estava mais rico que o Eike Batista, mais bonito que
o Brad Pitt e mais forte que o Anderson Silva. Álcool vai, álcool vem, meus
primos resolvem ir embora. Menos um, que estava desmaiado na mesa e “resolveu”
ficar.
- Eu cuido dele, falei. - E quem cuida de mim? Deveria ter
pensado. Não pensei.
Ele era minha carona, e como estava desmaiado, ia levar um
tempo para acordar. Fui pra pista beber mais. (Pra que?)
Bebi todo o uísque. Cowboy mesmo. Ao maior estilo garoto
Marlboro.
Bateu. Nó!
Bateu. Nó!
Tentei algumas investidas, mas mas o mulheril não pregou pela reciprocidade. Assumi a derrota. Fui então, já trocando as pernas, atrás do meu primo. E CADÊ O
VIADO?
Sumiu. Simplesmente não estava mais na mesa.
Aí entra em cena o desespero de procurar o rapaz e o momento
em que a “nésia” aparece pra me dar oi...
Corta a cena.
Estou de frente a um monstro de terno e gravata que está
usando minha cara como saco de pancada. Lembro disso. E de ter entregue a
carteira e celular em algum balcão pra fazer o Hulk de preto parar.
Devo estar saindo de um puteiro sem pagar, pensei. Puteiro é
foda. Como eu vim parar nesse puteiro?
Sou expulso do suposto puteiro, que somente no outro dia
descubro que era o mesmo lugar sertanejo que eu estava antes, e começo a vagar
pela rua.
Fudeu! Sem celular, sem carteira, sangrando e vagando na
madrugada pelos becos de uma cidade famosa não por sua segurança e civilidade.
Desde a popularização do celular que eu não gravo número
nenhum. Pra que gastar HD à toa? Por acaso sabia um único número de cabeça. Meu
primo. Liguei pra ele, à cobrar. Ele atendeu e desligou na minha cara. Liguei
de novo. Ele desligou. Liguei mais uma vez e já deu direto na caixa de
mensagem. Desligou o celular. Outro viado.
O desespero aumentou. Tentei manter a calma. Não consegui.
Decidi procurar pela casa de outro primo que morava na redondeza. O irmão do
que desligou o celular. Na verdade ele morava a uns 200 metros do local, mas,
bêbado, andei por mais de 2 horas sem conseguir encontrar nada. Estava
cambaleando. Cansado. E a cada orelhão que passava eu ligava pro meu primo e
caía na caixa de mensagem.
Comecei a andar pela inércia. Nem sabia mais aonde estava
indo. Só ia. E ligava.
Abriu o comércio. Era sábado. Passei a noite vagando como um
indigente. Tenso.
Cheguei a uma loja de colchão, entrei como se nada de
estranho e anormal estivesse acontecendo e falei ao vendedor:
- Bom dia. Por acaso o senhor tem algum D-33 da Ortobom?
Ele me olhou de cima a baixo, não comentou nada e me mostrou
o colchão.
- Hum, parece ser bom. Vou testá-lo aqui rapidamente - Disse
com todo o garbo e elegância.
E deitei no colchão pra dar uma cochilada. Meus pés estavam
me matando. O resto já havia morrido. Não sei por quanto tempo durei deitado.
Sei que acordei, agradeci ao vendedor e disse que ainda ia dar uma pesquisada
por aí.
Voltei a andar. E ligar. Por horas.
E nada.
Me entreguei.
Parei na frente dum bar e sentei ao pé do orelhão. Durmi.
Logo depois, uma buzinada me acorda. Era meu primo.
- Como você me achou?
-Liguei pro número que apareceu na bina e perguntei se eles
viram um bêbado usando o orelhão. E eles viram.
- E por que não atendeu quando eu liguei?
-Tava metendo, caralho.
-Ah.