segunda-feira, 21 de maio de 2012

Beber é dose



Álcool é como professor de matemática. Quando resolve algum problema, logo manda outro. Nesse dia mandou um que nem aluno do ITA resolveria.
Estava eu numa casa sertaneja de Aparecida de Goiânia – não gosto de sertanejo mesmo, mas às vezes é a única opção para sair aqui – que não se situa no lugar mais tranquilo da cidade. A tequila, mais barata que conheço, estava descendo como água e de repente o uísque surgiu também.
Logo já estava mais rico que o Eike Batista, mais bonito que o Brad Pitt e mais forte que o Anderson Silva. Álcool vai, álcool vem, meus primos resolvem ir embora. Menos um, que estava desmaiado na mesa e “resolveu” ficar.
- Eu cuido dele, falei. - E quem cuida de mim? Deveria ter pensado. Não pensei.
Ele era minha carona, e como estava desmaiado, ia levar um tempo para acordar. Fui pra pista beber mais. (Pra que?)
Bebi todo o uísque. Cowboy mesmo. Ao maior estilo garoto Marlboro.
Bateu. Nó!
Tentei algumas investidas, mas mas o mulheril não pregou pela reciprocidade. Assumi a derrota. Fui então, já trocando as pernas, atrás do meu primo. E CADÊ O VIADO?
Sumiu. Simplesmente não estava mais na mesa.
Aí entra em cena o desespero de procurar o rapaz e o momento em que a “nésia” aparece pra me dar oi...
Corta a cena.
Estou de frente a um monstro de terno e gravata que está usando minha cara como saco de pancada. Lembro disso. E de ter entregue a carteira e celular em algum balcão pra fazer o Hulk de preto parar.
Devo estar saindo de um puteiro sem pagar, pensei. Puteiro é foda. Como eu vim parar nesse puteiro?
Sou expulso do suposto puteiro, que somente no outro dia descubro que era o mesmo lugar sertanejo que eu estava antes, e começo a vagar pela rua.
Fudeu! Sem celular, sem carteira, sangrando e vagando na madrugada pelos becos de uma cidade famosa não por sua segurança e civilidade.
Desde a popularização do celular que eu não gravo número nenhum. Pra que gastar HD à toa? Por acaso sabia um único número de cabeça. Meu primo. Liguei pra ele, à cobrar. Ele atendeu e desligou na minha cara. Liguei de novo. Ele desligou. Liguei mais uma vez e já deu direto na caixa de mensagem. Desligou o celular. Outro viado.
O desespero aumentou. Tentei manter a calma. Não consegui. Decidi procurar pela casa de outro primo que morava na redondeza. O irmão do que desligou o celular. Na verdade ele morava a uns 200 metros do local, mas, bêbado, andei por mais de 2 horas sem conseguir encontrar nada. Estava cambaleando. Cansado. E a cada orelhão que passava eu ligava pro meu primo e caía na caixa de mensagem.
Comecei a andar pela inércia. Nem sabia mais aonde estava indo. Só ia. E ligava.
Abriu o comércio. Era sábado. Passei a noite vagando como um indigente. Tenso.
Cheguei a uma loja de colchão, entrei como se nada de estranho e anormal estivesse acontecendo e falei ao vendedor:
- Bom dia. Por acaso o senhor tem algum D-33 da Ortobom?
Ele me olhou de cima a baixo, não comentou nada e me mostrou o colchão.
- Hum, parece ser bom. Vou testá-lo aqui rapidamente - Disse com todo o garbo e elegância.
E deitei no colchão pra dar uma cochilada. Meus pés estavam me matando. O resto já havia morrido. Não sei por quanto tempo durei deitado. Sei que acordei, agradeci ao vendedor e disse que ainda ia dar uma pesquisada por aí.
Voltei a andar. E ligar. Por horas.
E nada.
Me entreguei.
Parei na frente dum bar e sentei ao pé do orelhão. Durmi.
Logo depois, uma buzinada me acorda. Era meu primo.
- Como você me achou?
-Liguei pro número que apareceu na bina e perguntei se eles viram um bêbado usando o orelhão. E eles viram.
- E por que não atendeu quando eu liguei?
-Tava metendo, caralho.
-Ah.


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@Danilomaranhao

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Look Vídeo



- Hey Dánilo. Ram bejá na boca ce mais eu!
(Nota: Pela riqueza cultural e dimensões continentais do nosso grande Brasil, temos, espalhados por todo o território nacional, diversos dialetos. Em alguns lugares eles consistem em trocar o “V” pelo “R”. “rumbora!”, “Ra li fudê” ou “tárra adoentado”.)
(Nota 2: Por outras razões que desconheço, existe, em alguns lugares do mesmo Brasilzão, a mania de particionar um inteiro. Logo, “nós dois” vira “ce mais eu” e “nós quatro” vira “ceis mais nóis”. )
- Vamos! Falei.  – Agora? Reiterei, um tanto trêmulo.
-É uai! Vem pra cá aqui ó. - E Bateu na manilha de cimento em frente à porta de sua casa, a qual ficava sentada várias horas quase todo dia.
Fui. Perna estava meio bamba. A barriga, subiu aquele frio. O rosto latejante tentava firmar o sorriso e esconder o pânico. Cheguei ao lado dela.
-E aí?
-Agora nóis beija, uai.
E veio. Me beijou. Fui condescendente. Não posso negar que existia muito de minha curiosidade para isso. Mas, apesar de não estar ainda familiarizado com o assunto, gostei.
E assim foi meu primeiro beijo. Romântico, não?
Ah! Eu falei que eu tinha 11 anos? E ela 17? Coincidentemente acho que era o mesmo tanto de dentes que ela tinha na boca. Não me importei com isso na hora e continuei a curtir o momento.
Nisso, abrimos um pequeno espaço para uma história apendicular.
Nesse mesmo período minha mãe tinha aberto uma locadora de vídeo. Look Vídeo. E de todos os catálogos disponíveis, fui de cara consultar o de entretenimento adulto. Enchi o saco da minha mãe até que ela deixou. Lembro que meu primeiro pornô foi um filme de 2 horas com lésbicas usando dildos de proporções titânicas - Na época da VHS não tinha essa de ficar acelerando o filme, não. Vi tudo. Completo.  Tinha um consolo lá que parecia uma Pet de Coca e lembro de ter pensado “- Será que chego a esse tamanho?” Se cheguei ou não, fica a dúvida no ar.
O ponto é que antes do meu primeiro beijo, já era eu um assíduo expectador da arte libertina.
Voltemos.
Curtindo o momento, consultei mentalmente o que já havia visto nos filmes e não hesitei, parti pra segunda base. E ela deixou.
Levantamos-nos da manilha e fomos para dentro de sua casa. Na sala. Ela sentou na poltrona, eu me aconcheguei no seu colo. Não! Ela não era gorda como a da história anterior. Eu é que era minúsculamente pequeno, com dito em outra história anterior.
Amasso vai, amasso vem, beijo aqui e acolá, foi tudo muito bom e tudo muito bem. Mas o pai dela chegou.
Fudeu! O cara era pastor da igreja, mais bravo que o Seu Lunga e mais forte que o pai do Cris, de Todo Mundo Odeia o Cris.
- Cê tem que sair agora!
- Como? Eu não vou topar com o seu pai. Tá doida?
- Pula o muro!
Claro que eu pularia. Aos 11, não havia um muro ou árvore que eu não subisse. Caí no lote vizinho, cheio de mato e carrapicho. Dei a volta no quarteirão e voltei pra casa. Ela era quase minha vizinha de frente. Minutos depois, ficamos nos olhando. Eu pela janela e ela pela manilha.
Passei de primeiro beijo para segunda base e fuga de sogro no mesmo dia. Começou bem. Ou não.
O fato é que essa história ainda continuou por uns bons dias. Ainda chamei alguns amigos e ela uma amiga dela – que divertiu uns três guris. Poderia ter sido também a primeira suruba, mas ficamos só nos beijos e amassos.
Foi bom enquanto durou. Se fosse hoje, ela seria indiciada, presa e o escambau. Qual o mal de ser bolinado por uma mulher? Queria eu ter tido uma professora no colegial que me levasse pra fazer sexo após a aula. Quando foi que o mundo virou tão viadinho?


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@Danilomaranhao

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Conselho



O cérebro é como a máquina de moer carne. Se entrar uma coisa, outra sai e fica aquele miolo no meio. Logo, você não consegue se lembrar de tudo.

O grande problema é quando você decide que quer esquecer alguma coisa. Daí você não para de lembrar-se da promessa do seu esquecimento e acaba por esquecer outra coisa que não queria, pois deu mais importância ao que você queria esquecer do que ao que você queria lembrar.

Então, lembre-se. Para esquecer, basta não lembrar. Não do conselho, mas do que se quer esquecer. Se você esquece o que quer não lembrar, logo se lembrou de esquecer e, consequentemente, não se esqueceu daquilo que você nem lembrava em pensar.

É como parar de pensar. Às vezes você quer parar de pensar. Mas se for pra parar de pensar você só pensa em parar de pensar e acaba não parando nunca. Fica só pensando naquilo. Não naquilo que você está pensando, mas em parar de pensar. Não pense besteira.

Quer saber? Esquece. Mas não fique lembrando em esquecer senão você não para de pensar.

Pense nisso.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Excedências



Amigo é amigo e filho da puta é filho da puta. E em uma noite, numa balada, Eu fui amigo para um filho da puta. Explico.
Estávamos eu e um amigo em uma viagem a negócios por uma dessas cidades desse Brasil de rios e Cachoeira. Como de praxe, toda viagem a trabalho pede, por obrigação, uma balada. Pode ser numa segunda-feira. Se sair da sua cidade a trabalho, você vai pra balada local. Mesmo que ela seja uma festa de som automotivo dentro da boate em frente à praça principal – Um caso que posso contar em breve.
O fato é que então fomos os dois a procura do que fazer. Primeiro um barzinho pra dar aquela animada e logo depois resolvemos encarar uma festa estranha com gente esquisita. Mais esquisitos do que gente. Talvez por isso emplacamos uma garrafa de vodka. Começamos a enxergar cada vez mais gente e menos esquisitos.
Ao final da noite meu amigo já estava lá se atracando com uma menina que não tenho a menor ideia de quem é, era ou será. Já eu, tinha como companhia somente o sofá preto, tosco e fedendo a fumaça e álcool que eles chamaram de camarote. Se ao menos já fosse era dos smartsphones, poderia ter ficado lamentando a vida no Facebook.
Quando eu já estava quase babando no sofá ele chamou pra irmos pro hotel. Ia levar a mulher pro abate. Falei que não tinha problemas, eu ia chegar e capotar de qualquer jeito. Não ia ouvir nada. Entrei dentro do carro e quando ia fechar a porta, a coisa aconteceu.
(Percebam que sempre existe um ponto de virada de qualquer coisa da minha vida que faz com que tudo o que poderia ser absolutamente normal se torne uma história esdrúxula e inexplicável.)
Eis que ela chegar ofegante e toda serelepe gritando pelo nome da amiga – a que estava com meu amigo – e já entra dentro do carro também.
Gorda. 
Muito gorda. Tão gorda que só de digitar o nome dela no Word ele já vai automaticamente em negrito. Era mais fácil de pular que rodear, a criatura. Veio entrando no carro toda borrachona, tipo aqueles gatos gordos que passam entre as grades e vão arrastando o corpo pra poder passar.
- Ai, amiga, onde vocês vão? Iam me deixar aqui? Não acredito. Olha, que loucura de festa viu? Ai nem conheço vocês, tudo bom? Meu Deus que suadeira!
Gordo sempre sua. Gordo sua até na piscina.
-Estamos indo pro hotel deles, tomar uma saideira, vamos?
-Ai, vamos demais. Nossa, vocês não são daqui? Vocês são de onde?
-Goiânia - respondi. – Como ela arruma tempo pra comer tanto se não cala a boca? – pensei.
Nessa hora já me veio o pavor. Em milissegundos formulei dezenas de possibilidades pra eu não ter que ficar de papo com essa gorda enquanto meu amigo faturava a coisinha que ele pegou. Nem era tão coisinha assim, mas devidos os parâmetros de comparação recém instaurados ela se tornou Miss Venezuela.
- Ai, prazer. Isabela. Pode me chamar de Bela. (POR QUÊ NÃO PARA COM ESSE “AI”?)
- Danilo. Vou chamar de Isa pra ficar menos hipócrita. – Sorri com ar de vilão. Ela não se abateu. Acho que nem entendeu, já foi logo cutucando a amiga pra falar qualquer outra besteira que começasse com “ai”. E eu, maquinando formas de me livrar de tudo aquilo.
Chegamos ao Hotel. Tivemos que entrar escondido, pois senão seria cobrado adicional de pessoas no quarto. Se cobrassem por espaço, a moça ia ser mais cara que a suíte presidencial do Copacabana Palace.
Entramos os quatro no quarto e o casal vinte já foi se jogando na cama pra dar uns amassassos e ficar naquele climinha chato de “pega ela também, vai!”. 
De cara já me joguei na cadeira, fiquei de frente o computador, abri uma cerveja e o Orkut. Era Orkut na época. A gorda deitou na minha cama. As beiradas dela começaram a escorrer pela borda do colchão. O vestido branco não segurou os peitos e eles também escorreram pelo lado. Cena tensa.
Passa um tempo, aquele conversê sem razão, eu desviando de todas as investidas da loira – Falei que era loira? Só a gordura que é referência, normalmente – e o álcool foi subindo. Mais uma vez. Já pulou da ressaca pra liga.
Estava cansado, bêbado e o casal estava lá do nosso lado fazendo o serviço. A gorda me chama pra cama dando três tapinhas no colchão.
- Vem pra cá, vem.
Fui.
Não me julguem. Queria dormir, mas o álcool desperta uma libido aqui e outra ali... sabem como é.
Não consegui entrar na cama. Não cabia. Deitei por cima dela. Era gorda, mas era confortável. Logo em seguida ela começa a me bolinar. Mão aqui, língua acolá e eis que a resposta instintiva da testosterona se fez presente. Tirei minha calça e depois a calcinha dela. Ambos tinham o mesmo tamanho. Tentamos o ato. Digo tentamos porque creio que nem mesmo Kid Bengala chegaria lá. A distância da barriga pro local de destino era tão grande que tinha placa de sinalização e um posto Ipiranga no caminho.
Tentamos vias superiores de entretenimento. CARA! Eu poderia fazer uma espanhola usando minha perna e ainda assim ela ficaria perdida no meio daqueles peitos. Que isso! Tá danado. Subiu pra boca. Aí a coisa simulou algum sucesso, mas não passou disso. Fomos rendidos por limitações físicas – se ela fosse menor ou eu beeeeeeem maior, talvez desse certo.
-Ae, tive uma ideia – Falei
- O quê? – Ela perguntou
- Vamos fazer uma troca de casal e tal. Sabe, dar uma animada nisso aqui. Alguns joguinhos.
-Ai, eu não quero não. – ela falou.
- É, ta de boa assim - meu amigo falou. A mulher dele apenas sinalizou que não com a mão. A boca estava ocupada embaixo do lençol.
Mas que maldição, pensei. Ocupei novamente a boca de moçoila. Meu amigo riu. Fez aquela cara de “Tá doido que eu vou pegar isso aí, mano? Pirou?”
Apaguei.
Acordei no outro dia em cima da Isa, fiquei de cócoras sobre a sua barriga e a acordei. Sim, eu cabia inteiro de cócoras sobre a barriga da dita cuja.
-Acorda, Isa. Hey vocês dois, acordem aí também!
Estávamos atrasados e tínhamos que ir pra outra cidade. Acelerei todos. Queria me livrar logo da Rainha Momo. Dormir com mulher bonita e acordar com feia é normal pra quem bebe. Mas quando vai dormir já é feia, imagina pela manhã.
Mandamos as meninas irem sozinhas na frente porque o recepcionista do hotel não poderia nos ver juntos. Ela foram embora. Ufa.
- Filho da puta você, sabia?
- Que isso? Pelo menos ela é legal. – E ele riu. Viado.
- Ahan. Me deve uma. Me deve muitas!!!
Fomos fechar a conta do hotel e foi cobrado excedente. O funcionário do turno da noite nos viu pela câmera do elevador. Tivemos que pagar pelas moças. Fiz meu amigo pagar. Pelo menos não foi cobrado por espaço.