quinta-feira, 7 de maio de 2009

Recepção

Mais um que passou sem ao menos olhar para o lado. Ainda estou tentando contar, mas ao contrário do que pensei, o sono ficou maior. Ler outro folder, nem pensar! Já decorei até as cores de cada um, E não passa disso. Marasmo total.

Bem que poderia ser mais interessante. Algo mais cativante. E então no exato momento em que me recompusesse após uma “pescada”, eu a notaria desfilando elegantemente pelo corredor, esbanjando um brilho estonteante do branco de seus dentes que uniam-se harmonicamente a seus lábios para que pudesse exibir o mais lindo sorriso.

E enquanto eu desamassava a cara de sono e arrumava a camisa, por um deslize, desencontrei-me com a cadeira e o tombo tornou-se inevitável.

- Machucou? – Ela pergunta.

Que voz! Que timbre encantador. Um sussurro desses no meu ouvido e a paixão extravasaria os limites do imaginável.

- Só o coração.

- Como?

- Eh.. não foi nada não.

E daí ela sorri aliviada e um tanto tímida passando a mão nos longos cabelos pretos.

Emplacou! Penso. Cogitei a possibilidade de um outro tombo, e assim quem sabe já não nos tornaríamos íntimos... Mas meu glúteo ainda latejava e talvez, com outra queda não fosse possível disfarçar a dor.

- Pois não? – pergunto galanteador, já prevendo a sua resposta. – eu te quero – ela diria. Ela me queria. Me desejava ardentemente e não agüentava mais segurar esse sentimento. E agora me faria o convite. Iríamos juntos em uma viagem a uma praia deserta onde nos amaríamos sem qualquer pudor. Já podia até ver nossa casa no campo e os dois moleques correndo na grama e lavando o cachorro. Seu nome seria Toy. Toy era o nome ideal para o meu cachorro, na verdade, das crianças. Eu e ela abraçados no alpendre olharíamos ao longe e logo depois, um para o outro e nos beijaríamos fazendo juras de amor eterno...

- Eu quero fazer uma inscrição pro vestibular. É com você?

- Não. A esquerda na segunda porta.

É... Mas poderia ter sido diferente. Apenas um detalhe muda toda nossa vida. Deveria ter perguntado “o que deseja?”. Ela me desejava! Como pude falar “pois não?” Isso já trás negatividade. Assim nunca daria certo. É tudo mesmo muito complexo e emocionante...

Mais outra “pescada”. Essa foi das grandes. E acho que passou mais um sem olhar para o lado. Não sei. Perdi a conta e ainda estou com sono. Vou pegar mais um folder.

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